Ciclovias: modismo ou consciência ambiental?
As ciclovias chegaram ao Brasil e vieram para ficar
As ciclovias chegaram ao Brasil e vieram para ficar. Presentes nos países desenvolvidos há algum tempo, elas conquistaram o nosso país nos últimos anos. A tão conhecida bicicleta, antes usada para brincadeiras, hoje está presente nos esportes, visando a melhoria da qualidade de vida, assim como, uma alternativa de transporte urbano.
As ciclovias viraram um dos assuntos mais falados do momento. Passaram a fazer parte das promessas de campanha eleitoral, e até, nossa presidente passou a adotá-la, para melhorar a sua imagem e aproximação da população.
E do ponto de vista ambiental? Quais melhorias estão trazendo?
Em cidades como Paris, Nova York e Amsterdã, as bicicletas fazem parte do dia a dia da população. Tornaram-se um meio de transporte ecologicamente correto e consequentemente houve uma redução da emissão de CO2.
Porém, as cidades citadas têm sistemas de transportes públicos eficientes, não têm assaltos, a população é extremamente educada e as bicicletas são facilmente alugadas e estacionadas.
Paris implantou um programa de bicicletas públicas em 2007, denominado VELIB custeado pela iniciativa privada. Atualmente a cidade possui 548 km de vias compartilhadas e houve uma redução de 20% da frota de veículos.
Passar temporadas em Amsterdã faz com que você se adapte rapidamente à realidade da cidade. Na década de 50, 20% da população já utilizava a bike como meio de transporte. Nos anos 60, houve uma melhoria do poder econômico proporcionando o aumento do número de veículos e consequentemente o número de acidentes.
Assim, em meados dos anos 70, o governo resolveu incentivar o uso visando redução de acidentes, sendo hoje o país em que mais se usa bicicleta como veículo de transporte. Em 2003 passou a implantar o sistema de locação nas estações de metrô, parques, entre outros.
Alleta Koster que é diretora da embaixada da Holanda para ciclismo diz que para um programa ser bem-sucedido deve ser iniciado pequeno.
Nova York iniciou seu programa a alguns anos, somente com 48 km, de ciclovias protegidas, seguido de uma campanha ostensiva de conscientização e marketing. Hoje, em menos de dez anos quase 500 km de ciclovias fazem parte do programa.
Bem, não precisamos dizer que o programa é um sucesso. E o Brasil? Como está? Já temos a implantação de ciclovias em várias cidades, porém, as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, tornaram-se um programa político.
Para implantação de um programa de ciclovia faz-se necessário um estudo complexo sobre o impacto viário, redução de pista de rolagem e de vias de estacionamento parcial, temporário ou total, locais de estacionamento das bikes, locação, compra de tickets, manutenção, topografia, pistas de rolagem, entre outros aspectos.
São Paulo é a cidade que possui o maior projeto. Fez um estudo parcial e insatisfatório do ponto de vista técnico. A promessa de campanha está sendo cumprida, o trânsito tornou-se caótico, a redução da velocidade em marginais de acesso e saída ocasionaram lentidão no tráfego e consequentemente o aumento do congestionamento. Sem falar que os custos do projeto já estão em três vezes acima do previsto!
Do ponto de visto ambiental e viário, não se esperam melhorias. A topografia da cidade não é adequada, a pavimentação irregular e 80% do transporte urbano é destinado para trabalho e educação. Assim, as bicicletas que forem usadas serão para pequenos trechos de um a dois quilômetros no máximo. Sem falar a insegurança! Os motoristas não respeitam pedestres, muito menos, as bicicletas.
Dessa maneira, as ciclovias serão utilizadas aos finais de semana e feriados para lazer. Do ponto de vista ambiental, não se esperam melhorias.
Precisamos parar com projetos utópicos e eleitoreiros. Possuímos profissionais competentes, universidades entre as melhores da América Latina e no ranking das cem melhores do mundo. Assim, projetos devem ser elaborados, discutidos, desenvolvidos por profissionais qualificados e não amadores. Já está na hora dos nossos governantes agirem com mais profissionalismos e temos que lutar por isso, visto que quem paga a conta somos nós.
Marcia Ramazzini é engenheira civil pela PUC Campinas, engenheira em segurança do trabalho e meio ambiente pela Unicamp e mestranda em Saúde Ocupacional também pela Unicamp. Tem especializações em Riscos Industriais e Construção Civil pela OSHA (Occupational Safety Health Administration), Ministério do Trabalho dos Estados Unidos. Marcia é diretora da Ramazzini Engenharia e tem 20 anos de experiência de mercado.
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