Selic cai e PIB sobe, mas níveis ainda precisam de ajustes, diz professor da FGV

Segundo Anderson Pellegrino, num país cujo PIB começa a se recuperar, taxa básica de juros deve continuar caindo para oferecer melhores condições de retomada

Segundo Anderson Pellegrino, num país cujo PIB começa a se recuperar, taxa básica de juros deve continuar caindo para oferecer melhores condições de retomada

“A nova taxa de juros da economia é de 10,25% ao ano. Baixou um ponto percentual, mas mesmo assim, o que se espera é uma queda mais incisiva. Ainda temos a segunda taxa de juros mais elevada do planeta, perdendo apenas para Rússia, cujo patamar real está muito próximo ao nosso. Por isso, na prática, ainda não dá para comemorar”, afirma o professor de Economia da IBE-FGV, Anderson Pellegrino.

Após a crise política gerada pela delação de executivos da J&F, empresa que controla o frigorífico JBS, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem (31) reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em um ponto percentual: de 11,25% para 10,25% ao ano. Foi o sexto corte seguido na taxa que atingiu o menor nível em três anos e meio, quando estava em 10%, patamar que os analistas estavam esperando antes das novas delações.

Já o Produto Interno Bruto (PIB) teve aumento de 1% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao quarto trimestre do ano passado. Esta foi a primeira alta, após dois anos consecutivos de queda. Os dados relativos foram divulgados nesta quinta-feira, (1º), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Pellegrino, em um país cujo PIB encolheu muito e agora começa a dar sinais de recuperação, é preciso baixar ainda mais a taxa. “Juros altos desestimulam o consumo e o investimento produtivo. Precisamos que o PIB continue crescendo e que a economia seja aquecida. Por isso, contamos com a queda expressiva da taxa de juros”.

O professor destaca a crise política como fator agravante para o contexto geral, porque a tendência é que haja “uma certa fuga de dólares” do país ou uma redução na entrada de novos investimentos estrangeiros. “Isso é péssimo para a economia, pois também acaba obrigando o Banco Central a ser mais comedido na baixa da taxa de juros, já que ela serve como atrativo para o capital externo”, adianta.

Além disso, dólares saindo do país gera desvalorização do câmbio, o que é ruim para inflação, afeta o desempenho da balança comercial e provoca uma série de efeitos colaterais ruins para o processo de retomada econômica. Na tentativa de recuperação da economia brasileira, uma das ferramentas que tem auxiliado é justamente a queda da taxa Selic, o que torna o investimento produtivo mais viável e que estimula o consumo já que força a queda das taxas de juros no sistema bancário.

Ainda de acordo com Anderson Pellegrino, a crise política impacta a economia à medida de que entendimento de que o governo perde força e eventualmente até está sob ameaça influência nas suas ações.

“O mercado financeiro entende que enfraquecido, o governo não pode levar adiante, por exemplo, projetos como as reformas, essenciais para equacionar a dívida pública estratosférica. Por isso, o país continua em déficit. Perde em credibilidade e ainda precisa captar mais dinheiro. Além disso, a Selic serve de base para a precificação dos títulos do governo que ajudam nessa captação de fundos que ele precisa. Logo, a taxa não pode ficar muito baixa para não desvalorizar os títulos”, explica.

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